O Brasil é o maior mercado de energia elétrica da América Latina e um dos maiores em capacidade de geração de energia elétrica do mundo. O atual cenário de energia elétrica no Brasil é uma combinação de mercados regulados e livres, juntamente com um mercado de energia de reserva que contém inúmeras complexidades – mas também várias oportunidades. Uma delas é a autogeração – a produção de energia elétrica para consumo próprio das empresas.
Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Brasil mostram que, desde 2009, a capacidade instalada de autogeração no Brasil mais que dobrou, para mais de 25,3 GW, e por um bom motivo: a autogeração permite às empresas cortar custos, reduzir riscos de falta de abastecimento e aumentar a sustentabilidade de suas atividades.
Lucas Salgado, gerente comercial sênior da Atlas Renewable Energy, explica a tendência e mostra como as empresas com operações no Brasil podem aproveitar a autogeração para atingir suas metas estratégicas de energia, sem a necessidade de se tornarem especialistas no mercado de energia elétrica.
P: Quais são os benefícios da autogeração de eletricidade?
R: No Brasil, a autogeração tem um benefício econômico muito claro, incluindo economia em encargos setoriais como CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), CCC (Conta de Consumo de Combustíveis) e Proinfa. As empresas também podem se beneficiar da energia incentivada e ter 50% de desconto nas tarifas de transmissão ou distribuição (ver gráfico abaixo). Este imposto incide sobre o consumo de eletricidade, e a taxa varia conforme a região e o nível de tensão. Isso pode representar uma economia de até 25% na tarifa de energia de uma empresa. Além dos benefícios econômicos, a autogeração pode permitir que as empresas alcancem suas metas de sustentabilidade, uma vez que estão apoiando a transição energética ao investir em energia renovável e podem se beneficiar de créditos de carbono ou certificados de energia renovável (RECs).
Q: Como funciona a autogeração de energia no Brasil?
A: Autogeradores industriais são grandes consumidores de energia que constroem usinas elétricas que atendem total ou parcialmente suas próprias demandas. No Brasil, isso tem ocorrido frequentemente com empresas mineradoras que administram suas próprias usinas hidrelétricas e termelétricas para alimentar suas operações, embora nos últimos anos tenha ocorrido uma transição para complexos eólicos e fotovoltaicos. Atualmente, os consumidores podem estabelecer parcerias de propósito específico com produtores de energia elétrica que lhes permitem tornar-se acionistas de um projeto de eletricidade, tornando-os autogeradores por direito próprio. Um modelo que já beneficiou empresas de diversos setores, como metalurgia, química, varejo e centros de dados, como mostram os recentes PPAs celebrados pela Atlas com a Albras e a Unipar Carbocloro.
P: Como funcionam essas parcerias para fins específicos?
R: Essencialmente, elas criam uma estrutura pela qual a Atlas e o cliente co-investem juntos em uma empresa, e a Atlas pode lidar com o EPC e o financiamento até atingir o COD do projeto com segurança com base no histórico da Atlas e alojado em nosso portfólio.
P: Em que fase da construção e desenvolvimento de um projeto de energia renovável as empresas podem entrar em uma parceria de autogeração?
R: Elas podem entrar em qualquer fase do projeto e a decisão de em que ponto do projeto o off-taker irá investir, dependerá de sua avaliação de risco. Estamos preparados para apoiar o off-taker em qualquer momento de sua decisão neste processo.
P: As empresas precisam ser grandes consumidoras de energia para se beneficiar da autogeração?
R: Nossos clientes ainda tendem a ser grandes consumidores em setores de mineração e produtos químicos, e também estamos vendo crescimento no setor de hidrogênio verde. Normalmente, os projetos variam de 400 a 700 megawatts de capacidade de energia. No entanto, usando a estrutura de parceria, a Atlas pode oferecer autogeração a consumidores menores. Com isso, estamos democratizando o acesso ao mercado de autogeração, permitindo que ele ganhe escala.
P: As empresas precisam estar localizadas fisicamente perto da usina?
R: Não, a usina não precisa estar no local, e também não precisa estar no mesmo mercado de preços dentro do Brasil. Podemos oferecer um portfólio em qualquer estado ou preço de mercado que melhor se adapte ao cliente – um exemplo é o projeto de PPA de autogeração da Albras que assinamos recentemente. Nesse caso, o cliente está localizado no norte do Brasil, enquanto nossa usina fotovoltaica está no sudeste do país.
Gerenciamos os riscos para eles e entregamos a energia em seu mercado de preços. Nossas soluções são feitas sob medida com base em nosso portfólio de desenvolvimento. Por exemplo, projetos de energia solar em diferentes regiões podem suprir as necessidades de energia de diferentes instalações industriais, assim como também podemos realizar permuta de longo prazo tanto dentro de nosso portfólio interno de energia quanto com tradings para dar ao cliente o que ele precisa, que costuma ser 100% de energia renovável no mesmo preço de mercado de suas plantas industriais.
Outro fator interessante para nossos clientes é o aspecto ESG e de sustentabilidade que incorporamos em cada um de nossos projetos. Isso significa que, como autogeradores em parceria conosco, além de os clientes serem investidores em um projeto de energia renovável, eles também estão apoiando iniciativas que impactam positivamente sua comunidade e fazem parte de todos eles por meio de nossos serviços ESG.
P: O que as empresas precisam ter em mente ao escolher um parceiro para um projeto de autogeração?
R: Em primeiro lugar, ter um parceiro que entenda o cenário jurídico e regulatório é absolutamente vital. As mudanças legais propostas no horizonte podem impactar a capacidade das empresas de aproveitar os benefícios da autogeração, portanto há realmente uma janela de oportunidade aqui, mas as empresas precisam agir rapidamente. Em segundo lugar, é fundamental estabelecer uma parceria com uma empresa com um forte histórico de implementação. Uma empresa capaz de desenvolver, financiar e construir um grande cluster renovável.
Esta também é uma parceria de longo prazo. Alguns dos principais aspectos a serem observados são a capacidade de seu produtor gerenciar seus riscos energéticos e que o projeto possa ser implementado no prazo. Na Atlas, nossa abordagem é envolver toda a empresa no processo. Nossa equipe financeira conversa com a equipe financeira do cliente; nossa equipe jurídica conversa com a equipe jurídica do cliente e assim por diante. Esta é uma joint venture e é preciso haver alinhamento e confiança entre ambos os lados.
Não importa se você é uma grande multinacional ou um pequeno consumidor de energia, você precisa ter toda a sua operação envolvida nesse processo porque pode haver questões contábeis, legais e regulatórias. É um processo complexo, mas, com o parceiro certo, os benefícios q ue ele pode trazer definitivamente fazem com que valha a pena.
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